Sermões Quaresmais — Sermão para a Quinta-feira depois do primeiro Domingo da Quaresma

De 17 de fevereiro de 1622, sobre a fé como adesão do entendimento às verdades reveladas por Deus ou pela Igreja, fé viva que produz o fruto das boas obras em oposição à fé morta ou moribunda, fé vigilante em oposição à fé adormecida, a prudência sobrenatural que acompanha a fé vigilante e atenta, e a confiança, perseverança, paciência e humildade na oração.

“Mulher, quão grande é a tua fé. Faça-se como desejas” Mt. 15, 28

Neste dia, os pregadores elogiam as virtudes da mulher cananeia de várias maneiras. Por mim, tratarei da fé, mostrando-lhes o que ela é. Tentarei mostrar a relação entre o que tenho a dizer-lhes com o que ocorreu no Evangelho entre Nosso Senhor e a mulher cananeia (Mt. 15, 21-28). Dessa forma, aprenderão as qualidades que a fé deve ter.

Quando o Salvador disse: Mulher, quão grande é a tua fé, foi porque a fé desta mulher era maior que a nossa? Certamente não quanto ao objeto da fé, que consiste nas verdades reveladas por Deus ou pela Igreja, e não é outra coisa senão uma adesão do nosso entendimento a essas belas e boas verdades que ela alcança. Consequentemente, o entendimento passa a crer em tais verdades, enquanto a vontade passa a amá-las. Pois assim como a bondade é o objeto da vontade, a beleza o é a do entendimento. No nosso dia a dia, a bondade é cobiçada através do nosso apetite sensitivo e a beleza é amada através dos nossos olhos. Em nossa vida espiritual, acontece da mesma forma em relação às verdades da fé. Essas verdades são boas, doces e verdadeiras, e não são apenas amadas e desejadas pela vontade, mas também valorizadas pelo entendimento devido à beleza que nelas encontra. São belas porque são verdadeiras; pois não há beleza quando não há verdade, nem há verdade quando não há beleza. Ademais, coisas aparentemente belas que não são verdadeiras tampouco são realmente belas. São falsas e enganosas.

Ora, as verdades da fé, sendo verdadeiras, são amadas pela beleza desta verdade, que é o objeto do entendimento. Digo amado porque, embora a vontade tenha bondade como objeto direto de seu amor, contudo, quando a beleza das verdades reveladas é representada pelo entendimento à vontade, ela também descobre a bondade ali e ama essa bondade e beleza dos Mistérios de nossa fé1. Para ter uma grande fé, o entendimento deve perceber a beleza desta fé. Por isso, quando Nosso Senhor deseja atrair alguma criatura ao conhecimento da verdade (1 Tm. 2, 4), Ele sempre revela sua beleza para ela. O entendimento, sentindo-se atraído ou cativado pela verdade e a comunica à vontade, que por isso a ama pela bondade e beleza que nela reconhece. Finalmente, o amor que esses dois poderes têm pelas verdades reveladas leva a pessoa a abandonar tudo para acreditar nelas e abraçá-las. Isso é feito espiritualmente. Tudo isso ajuda a explicar como se pode dizer que a fé nada mais é do que uma adesão do entendimento e da vontade às verdades divinas.

Com referência ao seu objeto, a fé não pode ser maior para algumas verdades do que para outras, nem pode ser menor em relação ao número de verdades a serem criadas. Pois todos nós devemos crer no mesmo, tanto ao que diz respeito ao objeto da fé quanto ao que diz respeito ao número de verdades. Todos são iguais nisso, porque todos devem crer em todas as verdades da fé – tanto aquelas que o próprio Deus revelou diretamente, quanto aquelas que Ele revelou por meio de Sua Igreja. Assim, devo crer tanto quanto você, e você tanto quanto eu, e todos os outros cristãos da mesma forma. Quem não crê em todos esses Mistérios não é católico e, portanto, nunca entrará no Paraíso. Assim, quando Nosso Senhor disse: Oh mulher, quão grande é a sua fé, não foi porque a mulher cananéia cria mais do que nós cremos; antes, foi porque muitas coisas tornaram a fé dela mais excelente.

É verdade que há apenas uma fé (Ef. 4, 5) que todos os cristãos devem possuir. No entanto, nem todos a têm no mesmo grau de perfeição. Para apreciar como uma mesma fé pode ser mais ou menos excelente, falemos das condições que a potencializam e das virtudes que a acompanham, e o falemos lentamente, para tornar tudo isso claramente entendido.

A fé é a base e o fundamento de todas as outras virtudes, mas particularmente da esperança e da caridade. Agora, o que digo da caridade se aplica também a todas as muitas virtudes conexas a ela. Quando a caridade está unida à fé e a acompanha, ela a vivifica. E assim segue-se que há uma fé morta e uma fé moribunda. A fé morta é a fé separada da caridade, separação que nos impede de realizar obras conformes à fé que professamos. Essa fé morta é aquela que muitos cristãos — os mundanos — têm. De fato, eles crêem em todos os Mistérios de nossa santa religião, mas como sua fé não é acompanhada de caridade, não realizam boas obras qued estejam de acordo com sua fé. A fé moribunda é aquela que não está inteiramente separada da caridade. Faz algumas boas obras, embora raras e débeis, porque a caridade não pode estar realmente na alma que tem fé sem realizar obras pequenas ou grandes. Deve produzir ou perecer, porque não pode existir sem fazer boas obras2.

Assim como a alma não pode permanecer no corpo sem produzir ações vitais, também a caridade não pode se unir à nossa fé sem realizar obras conformes a ela (Gl. 5, 6; Tg. 2, 14-26). Não pode ser de outra forma. Quer saber então se sua fé está morta ou morrendo? Examine suas obras e ações. O mesmo acontece com a fé como com uma pessoa que está prestes a morrer. Quando alguém sofre um ataque súbito de fraqueza ou parece que expirou, colocamos uma pena em seus lábios e nossa mão em seu coração. Se a alma ainda está lá, sentimos seu coração batendo. Pelo movimento da pena sobre sua boca, vemos que ele ainda está respirando. De tudo isso concluímos com certeza que, embora essa pessoa possa estar morrendo, ela ainda não está morta. Uma vez que suas ações vitais estão funcionando, a alma deve necessariamente estar ainda unida ao seu corpo. Mas quando notamos que ele não dá mais sinais de vida, concluímos que evidentemente a alma se separou do corpo e, portanto, essa pessoa está morta.

A fé morta se assemelha a uma árvore seca que não tem substância viva. Na primavera, quando outras árvores brotam folhas e flores, uma tal árvore não produz nada, porque não tem seiva, como têm as que não estão mortas conquanto adormecidas. Agora, eis aí um outro ponto: por mais que no inverno todas as outras árvores se pareçam com essa árvore morta, no entanto, em sua estação, elas produzem folhas, flores e frutos. Isso nunca acontece com a árvore que está realmente morta3. Um tal árvore pode parecer com as outras árvores, com certeza, mas está morta, pois nunca produz flores nem frutos. Da mesma forma, a fé morta pode realmente parecer uma fé viva, mas com esta importante diferença: ela não produz flores nem frutos de boas obras, enquanto a fé viva sempre os produz, e em todas as estações.

Funciona da mesmo modo tanto para a fé quanto para a caridade. Pelas obras que a caridade realiza, sabemos se a fé está morta ou moribunda. Quando não produz boas obras, concluímos que está morta, e, quando os frutos são poucos e demorados, que está morrendo. Mas assim como há uma fé morta, também deve haver uma fé viva, que é o seu oposto. Unida à caridade, acompanhada dela e vivificada por ela. É excelente, forte, firme e constante. Ela realiza muitas grandes e boas obras que merecem o louvor: Quão grande é a tua fé. Faça-se como desejas.

Agora, quando dizemos que essa fé é grande, certamente não implicamos que seja medida como quatorze ou quinze unidades. Não devemos entendê-lo dessa maneira. É grande pelas boas obras que realiza e também pelas muitas virtudes que a acompanham e a orienta, agindo como uma rainha que trabalha pela defesa e preservação das verdades divinas4. Que essas virtudes lhe obedecem, demonstra sua excelência e grandeza, assim como os reis não são grandes apenas quando têm muitas províncias e numerosos súditos, mas quando, junto com isso, têm súditos que os amam e são submissos a eles. Mas se, apesar de toda a sua riqueza, os seus vassalos não prestam atenção às ordens nem às leis deles, não diríamos que são grandes reis, mas sim muito insignificantes. Assim, a caridade unida à fé não só é seguida por todas as virtudes, mas, como uma rainha, as ordena e todos a obedecem e lutam por ela, e segundo a vontade dela. Disso resulta a multidão de boas obras de uma fé viva.

Há uma fé vigilante que, mais uma vez, depende de sua união com a caridade. Mas há também uma que é lenta, embotada e apática, e é a oposta da fé vigilante. É negligente em se aplicar à consideração dos Mistérios de nossa religião. É completamente entorpecida e, por isso, não penetra de forma alguma nas verdades reveladas. Ela as vê, com certeza, e as conhece, porque sua vista não é totalmente fechada. Não está dormindo, mas está sonolenta ou cochilando. Assemelha-se a pessoas cansadas que, embora de olhos abertos, não vêem quase nada e, embora ouçam falar, não sabem nem entendem o que é dito. Por quê? Porque elas são muito sonolentas.

Assim, essa fé adormecida tem os olhos abertos, pois acredita nos Mistérios. Ela ouve suficientemente o que foi dito sobre ela. Mas é com – como direi – um peso e embotamento que dificulta sua compreensão deles. As pessoas que têm uma mente embotada e sonhadora têm os olhos abertos, parecem muito pensativas e, ao que parece, atentas, mas em verdade estão alheias ao que está acontecendo. É o mesmo com aqueles cuja fé está adormecida: no geral crêem em todos os Mistérios, mas, caso se pergunte o que entendem sobre eles, não sabem nada. Essa fé adormecida corre grande risco de ser atacada e seduzida por muitos inimigos e até mesmo de cair em precipícios perigosos.

Mas a fé vigilante não só realiza boas obras como a fé viva, mas também penetra e compreende as verdades reveladas rapidamente e com grande profundidade e sutileza de percepção. É ativo e diligente em buscar e abraçar as coisas que podem aumentá-lo e fortalecê-lo. Observa e percebe de longe todos os seus inimigos. Está sempre alerta para descobrir o bem e evitar o mal. Ele se protege contra qualquer coisa que possa arruiná-lo. Vigilante, caminha com firmeza e evita facilmente cair nos precipícios.

Essa fé vigilante é acompanhada pelas quatro virtudes cardeais: fortaleza, prudência, justiça e temperança. Ela as usa como um colete blindado para colocar seus inimigos em fuga, ou para permanecer entre eles firme, invencível e inabalável. Tão grande é sua força que não teme nada, porque não apenas é forte, mas também está ciente de sua força e por quem é sustentada – a própria Verdade. Agora não há nada mais forte do que a verdade (3 Esd. 4, 35)5, em que consiste o valor da fé6. Os homens realmente têm essa força. Eles têm poder e domínio sobre todos os animais. No entanto, porque nem sempre percebemos que isso está em nós, muitas vezes tememos como fracos e covardes, voando estupidamente diante das feras. A força da fé, ao contrário, consiste em parte em conhecer seu poder. Portanto, ela o usa em algumas ocasiões e coloca todos os seus inimigos em fuga.

A fé emprega a prudência para adquirir tudo o que pode fortalecê-la e aumentá-la. Não se contenta em crer em todas as verdades necessárias para a salvação, pois estas são reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja. Está sempre atenta para descobrir novas verdades e, além disso, penetrá-las de modo a extrair delas a essência e a substância pela qual são sustentadas, encantadas, enriquecidas e aumentadas. Ora, tal prudência não é a mesma da de muitos mundanos, que são muito cuidadosos em acumular riquezas e honras e outros detritos que os enriquecem e os elevam aos olhos dos homens, mas nada lhes aproveitam para a vida eterna. Que falsa prudência! Ainda que me ajudasse a ganhar cidades e territórios de príncipes e reis, que me adiantaria se, apesar de tudo, sou condenado (Mt. 16, 26)? De que servirá meu valor se o usar apenas para adquirir as coisas transitórias desta vida mortal? Certamente, mesmo que eu fosse o homem mais forte e prudente do mundo, mas não usasse esse valor e prudência para a vida eterna, não valeria de nada.

Apesar disso, não há fim para a prudência humana! Ela se manifesta de mil e uma maneiras. E certamente sabemos que a maioria de nossos males vem apenas dessa falsa prudência. Mas, por enquanto, falemos apenas daquela prudência que diz respeito à fé.

A maioria dos cristãos tem a fé que devemos ter, crendo em tudo o que devemos crer. Poucas coisas são realmente necessárias para a salvação: crer em todos os Mistérios de nossa Religião e guardar os Mandamentos de Deus (Mt. 19, 16-17; Mc. 16,16; Heb. 11,6). A prudência dos mundanos está satisfeita com isso e não quer fazer mais do que o absolutamente necessário para a vida eterna, e fugir apenas do que pode causar sua condenação. Você não trabalha para Deus, então, mas apenas para si mesmo nisso, pois sua prudência não se estende além de fazer o que você sabe que o impedirá de se perder. Você não pertence a esses servos vigilantes (Lc. 12,37) que sempre têm os olhos nas mãos de seus senhores (Sl. 122, 2), e que são extremamente cuidadosos e atentos para fazer tudo o que sabem que tornará seus serviços mais agradáveis a Ele. Com isso eles mostram claramente que não estão trabalhando para si mesmos, mas pelo amor que têm pelo seu Mestre. Eles empregam toda a sua prudência não apenas para cumprir seu dever para com Ele, mas também para fazer tudo o que descobrem ser agradável a Ele. Estes são os servos fiéis (Mt. 25, 21, 23). Assim, terão a vida eterna e, mais ainda, grande glória e doçura na presença e gozo da Divina Majestade.

Há muitos, escreve São Bernardo7, que dizem: “Guardo os Mandamentos de Deus”. Muito bem, será salvo; essa é a sua recompensa. “Eu não sou um ladrão”. Você não será enforcado. Essa é a sua recompensa. “Eu não cometi assassinato”. Você não será executado. Essa é a sua recompensa. “Eu não desonrei ninguém.” Você não será desonrado. Essa é a sua recompensa. “Faço o que sei ser necessário para ser salvo”. Muito bem, você terá a vida eterna. Essa é a sua recompensa. Mas em tudo isso você será considerado apenas um servo inútil (Mt. 25,30). A fé vigilante nunca age dessa maneira. Ela serve a Deus não como um servo mercenário, mas como um fiel, empregando toda a sua fortaleza, prudência, justiça e temperança para fazer tudo o que sabe e reconhece ser agradável a Nosso Senhor e Mestre. Ela não apenas observa o que é necessário para a salvação, mas busca, abraça e pratica fielmente tudo o que pode aproximá-la de seu Deus.

Estar atenta é a quinta qualidade da fé. A fé atenta é muito grande e excelente. Além de ser viva e vigilante, atinge o ponto mais alto da perfeição através dessa atenção. É essa fé que a mulher cananéia tinha. Reflitamos um pouco sobre como a fé dessa mulher é grande justamente por sua atenção.

Ao cruzar o distrito e as fronteiras de Tiro e Sidon, Nosso Senhor quis cruzá-los secretamente para não manifestar Sua glória. Ele considerou se retirar para uma casa para que não fosse visto ou notado. Sua popularidade crescia a cada dia e Ele era seguido por um grande número de pessoas atraídas por Seus milagres e obras maravilhosas. Querendo se esconder, Ele entrou em uma das casas próximas. Mas observe esta mulher pagã de pé entre Seus ouvintes, observando cuidadosamente para ver quando o Salvador, sobre quem ela ouvira tantas coisas maravilhosas, passaria. Ela estava tão atenta quanto um cão observando cuidadosamente sua presa, para que não escapasse. É dessa forma que podemos interpretar as palavras de São Marcos Evangelista (Mc. 7, 24-29).

Quando Nosso Senhor passou, ou quando Ele se aproximou, ou quando Ele entrou na casa, ou ainda, quando Ele estava saindo (essa é uma questão debatida, mas não quero entrar nela aqui; quanto a mim, creio que isso aconteceu quando Ele estava nesta casa), a mulher cananéia, que estava esperando para tomar sua presa, veio apresentar seu pedido a Ele, clamando: Senhor, Filho de Davi, tende piedade de mim! Minha filha está cruelmente perturbada pelo demônio.

Reflita um pouco sobre a grande fé dessa mulher. Ela pede ao Nosso Divino Mestre apenas que Ele tenha piedade dela, e crê que se Ele tiver piedade, isso será suficiente para curar e libertar sua filha que foi perturbada pelo espírito maligno. Sua fé não teria sido tão grande se ela não estivesse tão atenta ao que ouvira falar de Nosso Senhor e ao que havia concluído sobre Ele. Aqueles que O seguiram ou que moravam nas casas próximas àquela para onde Ele se retirou, de fato viram e ouviram sobre as maravilhas e milagres que Ele havia realizado, pelos quais Ele confirmou a doutrina que Ele ensinou. Tinham tanta fé quanto a mulher cananéia, pois grande parte deles acreditaram no que se dizia Dele. Mas a fé deles não era tão grande quanto a dessa mulher porque não era tão atenta quanto a dela.

Normalmente observamos isso entre as pessoas comuns do mundo. Em uma reunião onde se discutem assuntos bons, santos e elevados, um homem avarento ouvirá de fato o que é dito, mas quando terminar, basta perguntar-lhe o assunto desta conversa, e ele não será capaz de relatar uma palavra. Por quê? Porque ele não estava atento ao que era dito, sua atenção estava em seu tesouro. O mesmo vale para o homem sensual e amante do prazer. Embora pareça estar ouvindo o assunto da conversa, não se lembra de nada disso por estar mais atento ao seu prazer do que ao que está sendo discutido. Mas se houver alguém que dê toda a sua atenção, e escute o que é dito, ah, ele certamente irá relatar muito bem o que ouviu.

Por que vemos tão pouco proveito dos sermões ou dos Mistérios que nos foram explicados ou ensinados, ou daqueles sobre os quais meditamos? É porque a fé, com que os ouvimos ou meditamos sobre eles, não é atenta. E assim, nós cremos neles de fato, mas não com muita convicção. A fé da mulher cananéia não era nada disso. Ó mulher! quão grande é a tua fé, não só pela atenção com que ouve e acredita no que dizem de Nosso Senhor, mas também pela atenção com que reza a Ele e apresenta seu pedido. Não há dúvida de que a atenção que damos à nossa compreensão dos Mistérios de nossa religião, e àquela compreensão com que os meditamos e os contemplamos, torna nossa fé maior.

Mas o que é oração e meditação? Parece que essas palavras vieram de outro planeta, já que tão poucas pessoas querem entendê-las. O que é meditação ou contemplação? Em uma palavra, é oração. Fazer oração é orar. Orar com atenção é ter uma fé viva, vigilante e atenta, como a da mulher cananéia. Essa fé ou oração atenta é seguida e acompanhada por uma grande variedade de outras virtudes descritas na Sagrada Escritura. Mas, por serem inumeráveis, ficarei satisfeito em tocar naquelas que são mais apropriadas para vocês e que resplandeceram especialmente na oração da mulher cananéia. Ora, as virtudes particulares com que esta mulher acompanhou o seu pedido foram quatro: confiança, perseverança, paciência e humildade. Sobre cada um deles direi apenas uma palavra, pois não quero me alongar muito.

Ela tinha confiança, que é uma das principais condições que tornam grande a nossa oração diante de Deus. “Senhor”, disse esta mulher, “tende piedade de mim. Minha filha está muito atormentada pelo diabo” (em latim, essa frase significa “muito tentada”). É como se ela quisesse dizer: “Este espírito maligno a atormenta cruel e excessivamente; por isso, tende piedade de mim”. Que grande confiança! Ela crê que se o Senhor tiver piedade dela, sua filha será curada. Ela não duvida nem do Seu poder nem da Sua vontade, pois roga apenas: “Tende piedade de mim!”. Eu sei que com isso ela quis dizer: “Sois tão gentil e bondoso para com todos, que não tenho dúvidas de que, implorando que tenhais piedade de mim, tereis, e assim que a tiverdes, minha filha será curada”.

Certamente o maior defeito que temos em nossas orações, e em tudo o que nos acontece, principalmente no que diz respeito às tribulações, é a nossa falta de confiança. Por causa dessa falta, não merecemos receber a ajuda que desejamos e pedimos. Ora, tal confiança sempre acompanha a fé atenta, que é grande ou pequena segundo a medida de nossa confiança. Quando São Pedro e os outros Apóstolos estavam no barco com seu Senhor, e notaram que a tempestade se aproximava, ficaram assustados e pediram Sua ajuda. Nisso fizeram bem, pois é a Ele que devemos recorrer e d’Ele devemos esperar toda a nossa ajuda. Mas quando viram as ondas subindo cada vez mais alto e seu bom Mestre ainda dormindo, ficaram muito excitados e gritaram: “Senhor, salvai-nos! Pereceremos!”. O Salvador os repreendeu, dizendo: “Homens de pouca fé” (Mt. 8, 24-26)8. Com isso Ele quis dizer: “Quão pequena é a vossa fé, pois nesta ocasião deveríeis demonstrá-la ainda mais, não possuís confiança. Como vossa confiança é pequena, assim também o é vossa fé”.

Mas a mulher cananéia tinha grande confiança quando fez sua oração – de fato, mesmo em meio a rajadas e tempestades, que não eram capazes de abalar essa confiança nem um pouco. Pois ela a acompanhou com perseverança, continuando a clamar resolutamente: “Senhor, Filho de Davi, tende piedade de mim!”. Ela não disse mais nada? Não, não tinha outras palavras em seus lábios além destas, e ela perseverou em usá-las durante todo o tempo em que clamou por Nosso Senhor. Quão grande virtude é esta perseverança! Se tivessem perguntado àquele bom religioso, o jardineiro de São Pacômio, se ele não tivesse feito outra coisa senão fazer tapetes e trabalhar no jardim, ele teria respondido: “Nada mais”. Essa foi a ocupação dele desde a sua entrada no Mosteiro, e não esperava ter qualquer outro encargo pelo resto da vida9. Que perseverança ele teve!

No entanto, quando falo de perseverança não pretendo tratar daquela perseverança final necessária para ser salva, mas apenas daquela que deve acompanhar nossa oração. Quão poucas pessoas existem que realmente entendem em que ela consiste! Vemos moças que são apenas principiantes na devoção (e rapazes também, mas não estamos falando deles aqui; estamos falando agora apenas de moças, pois é a elas que me dirijo). Vemos, então, algumas que estão apenas começando a rezar e a seguir Nosso Senhor, e que ainda pedem e desejam delícias e consolações. Elas não podem perseverar em oração, exceto por força de doçura e deleite. Se elas experimentam algum desgosto na oração, ou se Deus retira ou priva a doçura ou facilidade habitual que nela tinham, reclamam e ficam aflitas. Dizem: “O fato é que eu não sou humilde, Deus não está nem um pouco interessado em me ouvir, Ele não olha para mim, pois Ele considera apenas os Santos, e o que eu sei!”. Elas alimentam outras bobagens e mil pensamentos, abandonando-se à ansiedade e ao desânimo.

Cansamos de orar com essa secura e abatimento de coração. E o que queremos? Êxtases, arrebatamentos, doçura e consolação. Se Deus não nos dá prontamente o que pedimos, ou não indica que Ele nos ouve, perdemos a coragem, não podemos perseverar na oração, desistimos completamente, ali mesmo.

A mulher cananeia não agiu assim. Pois, embora ela tenha visto que Nosso Senhor não estava prestando atenção à sua oração, já que Ele não lhe deu nenhuma palavra de resposta e parecia fazer-lhe uma injustiça, no entanto, essa mulher perseverou em clamar por Ele – tanto que os Apóstolos ficaram constrangido a dizer a Ele que Ele deveria demiti-la porque ela não fez nada além de clamar atrás deles. Por isso, alguns são de opinião que, como nosso Salvador não deu a ela nenhuma palavra de resposta, ela se dirigiu aos Apóstolos, rogando a eles que intercedessem por ela. É por isso que eles disseram: “Ela continua clamando atrás de nós”. Outros acreditam que ela não clamou a eles, mas que continuou a clamar a Nosso Senhor. Mas não quero me delongar aqui. Quanto a mim, mantenho esta última opinião, que quando os Apóstolos disseram: “Senhor, livrai-Vos dela”, ou melhor, “Mande embora esta mulher, porque ela continua clamando atrás de nós”, queriam dizer “após Vós”, pois ela estava clamando a eles quando clamou ao seu Mestre.

No entanto, embora Nosso Senhor se fez de surdo a tudo isso, ela não deixou de continuar sua oração habitual. Nisto ela mostrou sua perseverança, pois não é pouca virtude perseverar em sempre fazer a mesma oração e fazer os mesmos exercícios. E que oração devemos sempre fazer? Nosso Senhor ditou com Sua própria boca (Mt. 6, 9-14; Lc. 11, 2-4). Diga: “Pai Nosso, que estais no Céu”. Devemos rezá-lo todos os dias, sem rezar nada mais? Não, eu não digo isso, mas Deus não ordenou nenhuma outra. Bem sei que não é errado diversificar nossas orações e meditações, pois a própria Igreja nos ensina isso na variedade de seus ofícios. Mas, além dessas orações, dirá uma todos os dias, que deve ser recitada não apenas depois das Laudes, Prima e Vésperas, mas muitas vezes ao dia. E qual será? “Pai Nosso que estais no Céu”. Oh, como seremos felizes se acompanharmos essa oração com perseverança. Quando temos repugnância e secura nela, quando a doçura da oração nos é tirada, devemos perseverar em orar sem se cansar, sem reclamar nem procurar ser libertos dela, contentando-nos em tudo isso clamando sem cessar: “Senhor, Filho de Davi, tende piedade de mim!”.

Em algum lugar dos escritos de Cícero, não sei exatamente onde, ele diz em forma de provérbio que não há nada que canse tanto um viajante quanto uma longa estrada, ainda que plana, ou uma irregular e montanhosa (não me lembro de suas palavras exatas). Ele acrescenta muitas outras coisas, mas é isso que ele quis dizer: perseverança é muito difícil. Embora o viajante caminhe por uma estrada bonita e plana, sua extensão o cansa. Quando ele vê a noite chegando, fica preocupado e perturbado. Em uma palavra, ele certamente teria encontrado mais prazer se esta estrada oferecesse o desvio de vales e colinas. Da mesma forma, um caminho irregular e montanhoso, ainda que curto, cansa e aborrece o peregrino, pois ele está sempre fazendo a mesma coisa. Mas é curto. Não importa, ele preferiria que fosse mais longo, mas passando por uma planície ou vale.

O que é isso senão os caprichos do espírito humano, que não tem perseverança alguma no que empreende? É por isso que os mundanos que vivem de acordo com seus caprichos sabem tão bem diversificar as estações com seus passatempos e recreações. Nem sempre jogam o mesmo jogo, mas vários, caso contrário logo se cansam deles. Agora mesmo, na época do Carnaval, há balés, danças e máscaras. Em suma, passam as estações em uma variedade de diversões que nada mais são do que desejos e caprichos do espírito humano.

É por isso que a perseverança em fazer sempre a mesma coisa na vida religiosa é um martírio, e pode muito bem ser considerado assim. É verdade que é chamado de paraíso por aqueles que o entendem bem. Mas também pode ser chamado de martírio, pois as fantasias do espírito humano e toda a vontade própria são continuamente martirizadas lá. Eu lhe pergunto, não é um martírio estar sempre vestido da mesma maneira sem ter a liberdade de se vestir e se usar roupas tal qual fazem os mundanos? Não é um martírio comer sempre à mesma hora e quase o mesmo tipo de comida?

Não é uma grande perseverança para os camponeses, que normalmente só têm pão, água e queijo para se alimentar? No entanto, não morrem mais cedo, mas estão em melhor saúde do que os fastidiosos, que estão sempre a comer ao seu bel-prazer. Precisam de tantos cozinheiros, quanto tipos diferentes de preparações! Então, apresente para eles e veja o que acontece: “Ah”, dizem, “tire isso de mim, não é bom”; ou “Isso vai me deixar doente”, e coisas desse tipo. Mas na religião não fazemos uso de tal artifício. Comemos o que nos é dado! E isso é um martírio, assim como o seguimento constante dos mesmos exercícios.

Perseveremos em oração em todos os momentos. Pois se Nosso Senhor parece não nos ouvir, não é porque Ele quer nos privar. Pelo contrário, o propósito d’Ele é nos obrigar a clamar mais alto e nos tornar mais conscientes da grandeza de Sua misericórdia. Quem entende de caça sabe bem que no inverno os cães não conseguem farejar suas presas. O ar frio e a geada os impedem de detectar suas presas tão facilmente quanto em outras ocasiões. Algo semelhante acontece na primavera. A variedade e fragrância das flores tira a facilidade de perceber o cheiro do animal10. Para remediar isso, o caçador coloca um pouco de vinagre na boca e, segurando a cabeça do cachorro, esguicha o vinagre em seu nariz. Agora ele faz isso não para desencorajá-lo de ir em busca de sua presa, mas sim para instigá-lo e excitá-lo a fazer sua tarefa. Da mesma forma, quando Nosso Senhor nos priva da doçura e da consolação, não é para nos recusar ou para nos fazer perder a coragem, mas lança vinagre em nossa boca para nos excitar a nos aproximarmos tanto de Sua divina Bondade, e para nos encorajar na perseverança.

É também para obter provas de nossa paciência. Esta foi a terceira virtude que acompanhou a oração da mulher cananéia. Vendo sua perseverança, o Salvador desejou provar sua paciência também. Por esta virtude mantemos, tanto quanto possível, a igualdade de espírito entre as desigualdades desta vida. Por isso respondeu aos seus Apóstolos, que lhe suplicaram que a mandasse embora, com uma palavra que a magoou profundamente e que deve tê-la desencorajado muito. Não é razoável, disse Ele, que eu tome o pão dos filhos para dar aos cães. Não vim para buscar todas as ovelhas perdidas, mas para encontrar as ovelhas perdidas da casa de Meu Pai.

“Ah, então, Senhor, esta ovelha não é da casa de seu Pai? Ela vai se perder? Você não veio para todos, para o povo judeu e para os gentios?”. É claríssimo que Nosso Senhor veio para todos, assim o é na Sagrada Escritura. Mas quando Ele disse: “Eu não vim para todas as ovelhas desgarradas, mas somente para as ovelhas perdidas da casa de Meu Pai”, Ele queria que ficasse entendido que Ele foi prometido apenas aos judeus, que foram chamados filhos de Deus, que é que foi predito que Ele viria a Israel e andaria com Seus próprios pés entre este povo, ensinar-lhes-ia por Sua própria boca, curaria seus doentes com Suas próprias mãos, realizaria milagres em Sua própria pessoa (Is. 40, 1-2; Is. 10-11; Is. 61, 1; Lc. 4, 18-21). Portanto, Ele não deve tirar o pão dos filhos de Deus, isto é, do povo judeu, e jogá-lo aos cães, ou ao povo gentio, uma nação que não O conheceu. É como se Jesus Cristo quisesse dizer: Os favores que dou aos gentios, para os quais não fui enviado, são tão pequenos e tão poucos em comparação com os que concedo aos israelitas, que estes últimos têm nenhuma razão para ter ciúmes disso.
Como, então, devemos entender que Nosso Senhor veio para os gentios, bem como para os judeus? É assim. Assim como Ele veio para andar com Seus próprios pés entre os filhos de Israel, Ele andará entre os gentios nos pés de Seus Apóstolos. Ele curará seus enfermos, não com Suas próprias mãos, mas pelas dos Apóstolos. Ele pregará Sua doutrina a eles, mas pela boca de Seus Apóstolos. Ele recuperará suas ovelhas perdidas, mas por meio do trabalho de Seus Apóstolos. É por isso que Ele falou à mulher cananéia palavras que parecem tão rudes e cortantes, saboreando tanto desprezo e desdém por essa pobre mulher pagã. De fato, comumente observamos que nada ofende tanto quanto palavras cortantes ditas com desprezo por aqueles a quem falamos, principalmente se forem ditas por pessoas de distinção e autoridade. Vimos homens morrerem de tristeza e dor porque palavras de desprezo lhes foram ditas por seus príncipes, ainda que possam ter sido ditas por impulso ou surpresa de alguma paixão. Quando esta mulher ouviu Nosso Senhor, ela não perdeu a paciência. Nem se ofendeu nem se entristeceu. Prostrando-se a Seus pés, ela respondeu: “É verdade. Sou um cão, admito. Mas confio em Vossa palavra, pois os cães seguem seus donos e se alimentam das migalhas que caem debaixo da mesa”.

Essa humildade era a quarta virtude que acompanhava a fé e a oração da mulher cananéia: uma humildade tão agradável ao Salvador que Ele lhe concedeu tudo o que ela lhe pedia, dizendo: “Mulher, quão grande é a tua fé. Faça-se como desejas”. Certamente todas as virtudes são muito caras a Deus, mas a humildade O agrada acima de todas as outras, e parece que Ele nada pode recusar. Ora, esta mulher manifestou a grandeza da sua humildade ao reconhecer que era uma cadela, e que, como cadela, não pedia os favores reservados aos judeus, que eram filhos de Deus, mas apenas para recolher as migalhas que caiu debaixo da mesa.

Há muitas pessoas que insistem que não são nada, que são apenas vileza, miséria e coisas afins (o mundo está cheio desse tipo de humildade); mas não suportam que outro diga a eles que não valem nada, que são tolos, ou usando outras palavras de desprezo. Confessarão o quanto quiserem, mas cuidado ao dizer isso a eles, pois ficarão ofendidos11. Acrescentarei essa palavra de passagem, já que me vem à mente. Os confessores ficariam muito felizes se pudessem sempre trazer seus penitentes para confessar que são pecadores. Mas não! Deixe-os mostrar-lhes suas falhas; deixe-os tentar fazê-los admitir que estão errados! Na maioria das vezes, não desejam admitir nem podem acreditar. Quanto à nossa cananéia, não só não se ofendeu ao ouvir-se chamar de cão, como ainda acreditou, admitiu e pediu apenas o que pertencia aos cães. Nisso ela manifestou uma humildade admirável que mereceu ser louvada pela boca de Nosso Senhor – o que Ele fez, dizendo: “Mulher, quão grande é a tua fé. Faça-se como desejas”. E ao elogiar sua fé, Ele elogiou todas as outras virtudes que a acompanhavam.

Coragem então! Despertemos novamente nossa fé e a vivifiquemos pela caridade, bem como pelas práticas e boas obras feitas na caridade. Cuidemos para conservá-la e aumentá-la, tanto pela atenta consideração dos Mistérios que ela nos ensina, como pelo exercício das virtudes de que falamos, particularmente a humildade, pela qual a mulher cananéia obteve tudo o que desejava. Imitemos essa mulher que perseverou no clamar a Nosso Salvador e Mestre: Senhor, Filho de Davi, tende piedade de mim! Ele nos dirá no final de nossos dias: Faça-se como deseja; e por causa do que fez, venha, desfrute a eternidade.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Um homem.

Notas

  1. Cf. Tratado sobre o Amor de Deus, Livro 1, cap. 1; Livro 2, cap. 14; Livro 7, cap. 5. 
  2. Cf. Tratado sobre o Amor de Deus, Livro 4, cap. 2; Livro 11, cap. 5. perto do início. Estando tão próximo da Reforma Protestante e sua compreensão da justificação pela fé somente, São Francisco de Sales tem o cuidado de enfatizar a visão católica de fé informada pela caridade como encontrada na Epístola de São Tiago (Tg. 2, 14-15) e nos ensinamentos do Concílio de Trento. 
  3. Cf. Tratado sobre o Amor de Deus, Livro 11, cap.12. 
  4. Cf. Tratado sobre o Amor de Deus, Livro 2, cap. 14; Livro 8, cap. 6; Livro 11, cap. 5 e 9. 
  5. Na Septuaginta os dois Livros canônicos Esdras e Neemias foram unidos para formar um chamado Esdras B (ou seja, segundo) e foram colocados imediatamente após o Livro apócrifo chamado Esdras A (ou seja, primeiro) (cf. Catholic Biblical Encyclopedia, by Steinmuller & Sullivan). O Livro de 1 Esdras na Septuaginta é chamado de 3 Esdras (ou pelos estudiosos modernos, “o Esdras grego”), mas é colocado antes dos outros dois. 3 Esdras 4, 5: “então a verdade é grande e mais poderosa do que todas as outras coisas” (The Apocrypha,
    Am. translation by Edgar J. Goodspeed, Vintage Books). 
  6. Cf. Sermão para o primeiro Domingo da Quaresma. 
  7. Cf. As Conferências Espirituais de São Francisco de Sales, Conferência XI, “A Virtude da Obediência”, p. 197-8. 
  8. Cf. Sermão do Primeiro Domingo da Quaresma. 
  9. Cf. Conferências Espirituais, X, “Sobre Obediência”, p. 167; XI, “A Virtude da Obediência”, pp. 190-191. 
  10. Cf. Tratado sobre o Amor de Deus, Livro 12, cap. 3. 
  11. Cf. Filoteia: Introdução à Vida Devota, parte III, cap. 5.