Calvário

Extraído do livro Tesouros de Cornélio a Lápide, organizada pelo Abade Barbier, a partir dos célebres comentários de Cornélio a Lápide às Sagradas Escrituras1

Segundo São Jerônimo, Adão foi sepultado no Calvário, no mesmo lugar em que foi crucificado Jesus Cristo. Deste fato, fazem derivar o nome do Calvário que tem a montanha da crucificação, nome devido a cabeça de Adão ali enterrada. Costumam dar essa mesma razão para explicar o costume dos pintores de colocar uma cabeça ao pé da cruz de Jesus Cristo.

Orígenes, Epifânio, Santo Atanásio, São Cipriano, Santo Ambrósio etc. participam também da opinião que Adão foi sepultado no Calvário; ali é também, segundo a opinião de São Jerônimo, onde teve lugar o sacrifício de Abraão. Isto é o que diz Santo Agostinho sobre o particular (De Civ. Dei, c. XXXII): o sacerdote Jerônimo escreveu que havia tomado conhecimento de uma maneira certa que Isaac havia sido sacrificado no Calvário, que ali mesmo havia sido sepultado Adão, sendo também o lugar onde foi crucificado Jesus Cristo.

Isaías, vislumbrando os benefícios que a morte de Jesus Cristo, faria derivar do Calvário, exclamou: O Deus dos Exércitos preparará sobre esta montanha, para todas as nações, um banquete, no qual se servirão toda classe de manjares e vinhos, os mais deliciosos: Et fecit Dominus exercituum omnibus populis in monte hoc convivium pinguium, convivium vindemiae, pinguium medullatorum, vindemiae defaecatae (Is 25, 6).

Sobre esta montanha, Deus romperá as cadeias que tinham aprisionados a todos os povos, bem como as redes estendidas contra todas as nações: Praecipitabit in monte isto faciem vinculi colligati super omnes populos, et telam quam orditus est super omnes mationes (Is 25, 7). O Senhor Deus destruirá ali, para sempre, o império da morte; ali, secará as lágrimas de todos aqueles que choram, e a terra não verá mais o opróbrio de seu povo: Paecipitabit mortem in sempiternum; et auferet Dominus Deus lacrymam ab omni facie, et opprobrium Populi sui auferet de universa terra (Is 25, 8). Dir-se-á, naquele dia: Verdadeiramente que este é nosso Deus; Nele temos esperado, e Ele nos salvará. Este é o Senhor. Mantivemo-nos na esperança, e agora nos regozijaremos; e, na saúde que d’Ele procede, exultaremos: Et dicet in die illa: Ecce Deus, noster iste, expectabimus eum, et salvabit nos; iste Dominus, sustinuimus eum, exultabimus et laetabimur in salutar ejus (Is 25, 9). O poder do Senhor repousará sobre esta montanha (Is 25, 10).

Notas

  1. O PDF da edição desse livro em língua espanhola, feita em 4 volumes, pode ser encontrado em: https://archive.org/details/tesoros-de-cornelio-a-lapide-tomo-4