Extraído de uma edição de 1935 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São Sinforiano é tido como um dos mártires mais distintos da França. Era filho de Fausto, cidadão respeitabilíssimo da cidade de Autun, que vivia no tempo dos primeiros Apóstolos da França — Benigno e Andochio. Como estes por muitos dias fossem seus hóspedes, teve ocasião de conhecer bem a doutrina da religião cristã, o que grandemente influiu na educação que depois deu ao filho, Sinforiano.
Autun, uma das cidades mais importantes da Gália, era ao mesmo tempo o lugar onde mais florescia a idolatria. Eram Cibele, Apolo e Diana as divindades mais festejadas. Havia um dia marcado, em que o povo se reunia, para homenagear Cibele, a mãe dos deuses, cuja imagem era levada em triunfo pelas ruas da cidade.
Assistindo, certa vez, a uma dessas festas, Sinforiano se sentiu tomado de tanta repugnância por tudo que via, que não pôde disfarçar o desprezo por aquelas práticas idólatras.
Os pagãos, ofendidos com isso, insistiram para que prestasse homenagem à divindade.
Sinforiano, como se opusesse a essa intimação, foi levado à presença do Imperador Heráclio, inimigo acérrimo do nome cristão. Por este perguntado sobre seu nome e profissão, respondeu: “Sou cristão e chamo-me Sinforiano”. — “És cristão?” — perguntou Heráclio, cheio de admiração. Como pôde acontecer que isto nos ficasse oculto, não havendo mais ninguém nesta cidade que se diga cristão? Por que deste demonstração do teu desprezo à imagem de Cibele e não quiseste prestar-lhe a devida honra?” — “Porque sou cristão”, — respondeu Sinforiano. Eu só adoro ao Deus verdadeiro e não a imagens do demônio. Se me desses licença, despedaçava-as num instante”.
Heráclio, ouvindo isto, empalideceu de raiva e, dirigindo-se aos circunstantes, perguntou: “Este homem insolente, ímpio e revolucionário é cidadão de Autun?” — “É e pertence a uma das famílias mais distintas”, responderam-lhe. — “Por ser fidalgo pensa, porventura, que pode tripudiar sobre as leis?! Leiam-lhe as determinações imperiais”, ordenou Heráclio.
Um dos funcionários leu: “Marco Aurélio, Imperador, a todos os governadores, juízes e magistrados do Império: Chegou ao nosso conhecimento que uma certa classe de súditos, que se intitulam cristãos, não obedece às leis do Estado. Procurai-os e, se o negarem a prestar homenagem aos deuses, forçai-os a isto, por meio de torturas, para que se satisfaça à justiça e cessem esses crimes e com eles as punições”.
Terminada essa leitura, Heráclio perguntou a Sinforiano: “Que dizes a isto? Será lícito desrespeitares as leis do Imperador? Se não obedeceres, morrerás!” Sinforiano respondeu: “Aquela imagem para mim não é senão um miserável ídolo; digo mais: um demônio execrável da desgraça pública. Um cristão, que uma vez renunciou às paixões de uma vida pecaminosa e a elas torna, cai num terreno escorregadiço e, uma vez no caminho falso, é privado da graça divina e presa do inimigo. Deus é justo em recompensar, como não menos em punir. Eu não me salvarei a não ser pela confissão do seu santo Nome”.
Ao ouvir essas palavras, Heráclio pronunciou a sentença de morte pela espada.
Quando Sinforiano ia ser levado ao lugar do suplício, do meio do povo ouviu a voz de sua Mãe: “Lembra-te de Deus vivo, meu filho e sê constante! Não receies a morte, que te conduz à vida. Levanta teu coração, meu filho, Àquele que reina nos céus. Em vez de te tirarem a vida, trocam-na por outra melhor”.
Sinforiano, mais animado ainda pelas palavras da mãe, sofreu a morte no ano de 180. Os fiéis tiraram-lhe o corpo e deram-lhe honesta e religiosa sepultura.
Aconteceram grandes milagres e curas maravilhosas no túmulo de São Sinforiano e Deus glorificou a memória do Santo mártir.
Reflexões
“Sou cristão” — respondeu São Sinforiano ao juiz pagão. Ser cristão reputava ele grande honra, grande felicidade. Ser cristão valia-lhe mais que a posse de todos os bens reais e imagináveis do mundo, inclusive a própria vida. Por isso não pôs dúvida em sacrificar tudo, para garantir-se das bênçãos da religião, que confessava. Ser cristão é honra e felicidade também para nós. De nada, porém, vale o nome de cristão, o registro no livro competente do arquivo paroquial, se ao nome não corresponde a vida prática cristã. Ser cristão é amar a Deus sobre todas as coisas; ser cristão é amar o próximo com um amor sincero e verdadeiro; ser cristão é ainda praticar as virtudes cristãs, como sejam: a caridade, a mansidão, a sobriedade e a castidade. Ser cristão é, finalmente, praticar a religião, recebendo os Santos Sacramentos da Confissão e da Eucaristia frequente e dignamente.
Santos do Martirológio Romano, cuja memória é celebrada hoje:
Durante a perseguição de Valeriano morreram mártires em Tarso o bispo Atanásio, e Antusa, senhora de alta nobreza e mais dois de seus escravos.
Notas
- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-ii ↩