Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” 1
São Patrício é o Apóstolo da Irlanda, sendo ele de origem inglesa. Sua mãe foi sobrinha de São Martinho de Tours. Cheio de dor e arrependimento, falava São Patrício de sua infância, dizendo que só com dezesseis anos chegou a conhecer a Deus. Nesta idade, caiu com a família toda em poder de invasores bárbaros que o venderam a um irlandês. Seis anos passou São Patrício na prisão e, durante este tempo todo, serviu de pastor e aprendeu a ciência dos Santos. Uma voz interior fê-lo compreender que devia voltar para sua terra. Só com muita dificuldade pôde realizar esta ordem. Sentindo em si vocação para a obra de Deus na pregação da fé, fez os necessários estudos, recebeu as ordens maiores e apresentou-se ao Papa Celestino I com o pedido de ser mandado como missionário para a Irlanda, país que ainda jazia nas trevas do paganismo. De muito bom grado, o Papa deu-lhe as respectivas faculdades. Forte resistência encontrou no seio de sua própria família, quando devia receber a sagração de Bispo. Patrício, porém, não voltou atrás e, para obter a necessária liberdade, desligou-se dos seus, renunciou aos privilégios da aristocracia, firmemente resolvido a seguir sua vocação.
Com alguns sacerdotes, chegou Patrício em 432 na Irlanda e pôs logo mãos à obra. Em pessoa atravessava a ilha toda e visitou todas as povoações. Grandes foram as fadigas, enormes os sacrifícios, sem conta os sofrimentos de toda a espécie. Mas grande também foi o auxílio de Deus, poderosa sua graça, extraordinário o resultado dos trabalhos apostólicos dos santos homens. Trinta anos eram passados e já existiam 365 Igrejas, muitos conventos e escolas. A ilha toda estava dividida em dioceses e as dioceses em paróquias. A Igreja Católica chegou, na Irlanda, a um estado de florescência tal, que o país fora chamado “Ilha dos Santos”.
São Patrício foi o protótipo de missionário católico, cujas principais virtudes devem ser: grande zelo pela honra de Deus e pela salvação das almas, dedicação ao trabalho, coragem nas dificuldades, conformidade com a vontade de Deus, amor ao sofrimento, à cruz e à oração.
São Patrício possuía todas estas virtudes em grau elevado. Homem de Deus na palavra, na oração, na penitência e na cruz, experimentou o auxílio e a assistência divina em todas as fases de sua vida apostólica. Por meio de milagres. São Patrício, como os Apóstolos do Senhor, aplainou o caminho à verdade e, do mesmo modo que Jesus Cristo, podia afirmar: os cegos enxergam, os surdos ouvem, os paralíticos andam e aos pobres é pregado o Evangelho. No fim de sua vida, pôde o Apóstolo da Irlanda verificar a conversão de quase toda a ilha. Depois de uma vida de 83 anos, Deus o chamou para a eterna recompensa. São Patrício morreu em 460. Seu corpo foi depositado na Igreja de São Patrício em Down.
Reflexões
1. Trinta anos passou São Patrício trabalhando pela salvação das almas. Quanto tempo já dedicaste à tua própria alma? A alma que tens é tua e só tua. A ninguém compete senão a ti, trabalhar para que ela alcance a vida eterna. Se todos os anjos e todos os homens por ela se interessassem, nada conseguiriam sem tua cooperação e consentimento. Todos os demais interesses que te ligam a esta terra, podem ser representados por outras pessoas, o da salvação da alma não. Deus que criou tua alma sem nada te perguntar, não a quer no Céu, sem trabalhares para o merecer. Trabalha, pois, para salvar tua alma, se não o fizeres, ninguém o fará.
2. Pelo zelo apostólico, foi a Irlanda convertida ao Cristianismo e tão abundantes foram os frutos da pregação que a Irlanda tem o nome de “Ilha dos Santos”. Poucos países como a Irlanda ficaram fiéis à religião de seus pais. A Irlanda tem sido terra boa, segundo a expressão de Nosso Senhor, em que a semente nela lançada produziu fruto cento por um. Aos Irlandeses, aos discípulos de São Patrício, pôde ser aplicada a palavra de Cristo: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra divina e a guardam fielmente”. Admiramos a eficácia da palavra divina nos corações dos pagãos e hoje a mesma palavra não produz mais o mesmo fruto entre os cristãos. Há quem a pregue e quem a escute, poucos, porém, são os que a recebem e guardam com carinho. Os ouvintes modernos ouvem a palavra de Deus, mas não a põem em prática. A palavra de Deus hoje é a mesma que nos dias de São Patrício. Talvez haja atualmente poucos pregadores que se distingam pela virtude e santidade de um São Patrício, mas isto não deve ser motivo para se desprezar a semente divina, pois os pregadores da mesma são os ministros legítimos de Jesus Cristo, que receberam ordem de pregar sua santa palavra a toda criatura. Os cristãos devem, portanto, não concentrar a atenção à pessoa do pregador e ao talento retórico do mesmo, mas à doutrina que lhes transmite. “Eu sou apenas o cesto do semeador — dizia Santo Agostinho a seus ouvintes — O que dou é o que recebi. Não repareis a qualidade do cesto, mas a da semente e o poder do semeador”. Observando este conselho de Santo Agostinho, tua audição da palavra de Deus terá mais resultado e produzirá frutos cento por um.
Notas
- PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312
Apesar de no livro estar indicado que São Patrício se celebra aos 15 de março, talvez como uma antecipação para não coincidir com outra festa mais própria da Espanha, de onde o autor era, a comemoração desse Santo Apóstolo da Irlanda se dá universalmente aos 17 de março, data de seu martírio. ↩