Extraído de uma edição de 1928 do livro “Na Luz Perpétua — Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus, para todos os dias do ano, apresentadas ao povo cristão” ¹

Arcebispo de Colônia, era Heriberto, descendente de nobre família de Worms na Alemanha. Quando nasceu, foi notada uma luz extraordinária, que pairava por muitas horas sobre a casa. Como o menino revelasse grande inclinação para o estudo, seus pais o confiaram aos religiosos do convento de Gorze na Lorena. Tão extraordinários foram seus talentos, que tendo cursado diversas escolas, era havido como o homem mais sábio do seu tempo. Como chanceler do imperador Otão III, Heriberto gozou da confiança ilimitada do seu imperial senhor. Quando em 998 vagou a sede episcopal de Colônia, os votos dos eleitores se uniram em seu nome e Heriberto com a aprovação do imperador foi elevado à dignidade de Bispo de Colônia e nesta qualidade revelou uma santidade nada comum. Modelo exemplar de Bispo católico, cultivou principalmente as virtudes que devem constituir o tesouro espiritual de pastor: humildade, caridade e penitência.

Otão III morreu e Heriberto perdeu nele um dedicado amigo. O sucessor de Otão, no princípio pouco afeto ao Prelado, tratou-o com alguma dureza. Vendo, porém, que Heriberto era um Bispo segundo o coração de Deus, acabou por ser seu admirador.

Grande dedicação votava o Bispo aos pobres e doentes. Todos os dias os visitava no hospital que mandara construir. Certa vez faltou a chuva por muitos meses e houve grande calamidade. Heriberto ordenou um jejum de três dias e no terceiro dia se fez uma grande procissão de penitência. Os fiéis viram durante a procissão uma pomba pairar sobre a cabeça do Bispo, e a voltear três vezes antes de continuar seu voo para o alto. Não veio chuva e muitos se admiraram disto a que Heriberto deu a seguinte explicação: “A vosso Bispo cabe a culpa. São os seus pecados que impedem a Deus fazer misericórdia”. Dizendo isto, chorou amargamente e continuou suas orações. Na mesma hora escureceu-se o Céu de espessas nuvens e veio uma chuva abundantíssima, fato este, que o povo atribuiu à santidade do Bispo. Heriberto morreu no ano de 1021 numa das suas viagens de visita pastoral, vitimado por uma febre maligna que grassava em Neuss, onde se achava. Seu corpo foi sepultado na Igreja do convento em Deutz. Em 1376, por ocasião da destruição deste convento, suas relíquias foram transportadas para Siegburg.

Reflexões

“A mim bem pouco se me dá ser julgado por vós ou de qualquer outro homem; pois nem ainda eu me julgo a mim mesmo… pois o Senhor é quem me julga” (I Coríntios 4, 3-4). Esta palavra de São Paulo serviu de norma a Santo Heriberto, quando via suas melhores intenções mal interpretadas. Não há ninguém que possa satisfazer e agradar a todos. Sempre seu proceder, suas palavras e ações serão alvo de crítica e censura, Nosso Senhor Jesus Cristo melhor sorte não teve. Não importa o que os homens de nós disserem. Procuremos ser sempre fiéis servidores de Deus, que é Nosso Senhor e nosso juiz. Que Ele esteja satisfeito conosco, deve ser nossa constante e única preocupação.

2. Bem a tempo Santo Heriberto fez seu testamento. Quem tem bens terrestres, deve cuidar com bastante antecedência da aplicação que deseja ser dada aos mesmos depois de sua morte. “Faze teu testamento — diz Santo Agostinho — enquanto tiveres saúde e independência. Se deixares esse negócio para os dias de tua última doença, não faltará quem por meio de conselhos, louvaminhas e mesmo ameaças queira levar-te a fazer determinações que não sejam do teu agrado”. Ninguém, pelo fato de fazer o testamento com antecedência, morreu mais cedo e as modificações que lhe parecerem oportunas poderão ser feitas em qualquer tempo. Testamento feito é um sossego para o espírito. — Fazendo teu testamento, faze-o com justiça a fim de não levares pecados para a eternidade e cuida para que teu testamento não seja motivo de inimizade entre teus parentes e sobreviventes. Bens injustamente adquiridos devem ser restituídos ao dono — custe o que custar. Bens roubados e fraudulentamente adquiridos não trazem a bênção para as gerações futuras, nem agradam a Deus, se forem aplicados em obras pias. Deus quer receber honras do que é teu, não do que a outrem pertence. — Faze teu testamento como cristão, não te esquecendo de que Jesus Cristo, Nosso Senhor, teu juiz eterno, tem representantes aqui na terra, na Igreja e nos pobres. Considera também as almas do Purgatório com algumas Missas que determinarás serem celebradas. Seguindo estes conselhos, poderás tranquilamente esperar a morte, que será a morte de justo se, aliás, não tiveres descuidado a parte espiritual de tua alma.

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PDF desse livro disponível em: https://archive.org/details/pe-joao-baptista-lehmann-na-luz-perpetua-vol-i_202312 ↩